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Morte materna: 7 complicações que podem afetar gestantes e puérperas | Vida Saudável

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) define “morte materna” como o óbito em consequência de problemas diretamente relacionados ou agravados pela gravidez. Sendo assim, ela representa tanto as fatalidades ocorridas durante a gestação quanto aquelas dentro de um período de 42 dias após o parto.

Trata-se de um problema mundial de saúde pública, que atinge principalmente os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil. Não à toa, a OMS intitulou a campanha de 2025 do Dia Mundial da Saúde — celebrado anualmente no dia 7 de abril — como “Healthy beginnings, hopeful futures” (em tradução livre, “começos saudáveis, futuros promissores”). 

Segundo um levantamento da OMS divulgado em março de 2025, cerca de 300 mil mulheres perdem a vida devido à gravidez ou ao parto a cada ano. Isso equivale a uma a taxa global de 223 mortes por 100 mil nascidos, e uma média de aproximadamente uma morte a cada dois minutos no mundo.

No Brasil, o Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna, plataforma do Ministério da Saúde, estima uma média de 68.270 mortes por ano entre 2014 e 2023. 

Mas quais são as complicações que mais causam mortes maternas no mundo? Conheça sete delas e como se precaver contra seus riscos. 

1. Hemorragia

O estudo da OMS revela que a hemorragia é a complicação mais comum que leva à morte materna no mundo. Estima-se que seja responsável por quase um terço (27%) dos casos, o que equivale a cerca de 80 mil mortes por ano. 

É possível que tais episódios de sangramento intenso ocorram tanto em partos vaginais quanto nas cesáreas. Seus sintomas típicos incluem tontura, fraqueza, palpitação, sudorese, hipotensão, taquicardia e baixa saturação de oxigênio.

A hemorragia pode estar associada a negligências médicas no momento do parto ou logo após o nascimento, como lacerações nos tecidos genitais ou órgãos internos. Por isso, em países mais desenvolvidos, onde os protocolos obstétricos e a assistência ao parto são mais rígidos, os casos tendem a ser menos frequentes.

2. Pressão alta (pré-eclâmpsia e eclâmpsia)

Responsável por aproximadamente 50 mil óbitos anualmente (16% da média), a pressão alta é a segunda maior causa de morte entre gestantes e puérperas no mundo. Já no Brasil, trata-se do principal diagnóstico de falecimentos nesse grupo, com uma incidência de quase 25%, segundo o Ministério da Saúde

A condição pode surgir a partir da 20ª semana de gestação, quando recebe o nome de pré-eclâmpsia. Ela é caracterizada por hipertensão arterial e lesão de algum órgão-alvo, como rim ou fígado, e normalmente vem acompanhada de inchaço dos membros (principalmente os inferiores) e aumento exagerado do peso.

Se não for identificado no pré-natal e tratado corretamente, o quadro pode evoluir para uma eclâmpsia (convulsões), entre outras complicações. Essa forma mais grave da doença põe em risco a vida da mãe e do bebê, que pode nascer prematuramente, sofrer atrasos no desenvolvimento ou até morrer. 

Os sintomas típicos desse quadro são a ocorrência de convulsões (às vezes precedidas por dor e perturbações visuais) e sangramentos vaginais. O diagnóstico da condição pode ser feito por meio de exames durante a gravidez. Portanto, a recorrência do problema sugere falhas na qualidade e no acesso à assistência pré-natal. 

3. Aborto

O aborto também lidera entre as principais causas de mortes maternas no Brasil e no mundo – sendo responsável por 8% delas, segundo o levantamento da OMS. Ele pode ser dividido em duas categorias: espontâneo e inseguro. 

Como o próprio nome sugere, o primeiro acontece por causas naturais, dentre as quais estão questões hormonais, traumas, infecções virais e doenças crônicas. Já o aborto inseguro está associado a métodos clandestinos de interrupção de gravidez, nos quais são utilizadas técnicas e medicamentos de maneira errada.

O aborto inseguro é muito comum em países onde a interrupção voluntária da gestação não é permitida ou sua legalidade se restringe a casos específicos. No Brasil, por exemplo, o aborto só pode ser conduzido em hospitais ou clínicas seguras se a gravidez:

  • Tiver sido ocasionada por uma violência sexual;
  • Representar risco de vida à mulher;
  • Desenvolver um feto com anencefalia (não desenvolvimento do cérebro ou da calota craniana). 

4. Sepse

Sepse é o nome clínico dado a um conjunto de manifestações graves no organismo produzidas por uma infecção generalizada. Ela pode estar relacionada a infecções obstétricas originadas de um parto mal manejado, abortos e retenção placentária ou mesmo por infecções em outras regiões do corpo. Calcula-se que seja responsável por aproximadamente 7% das mortes maternas anualmente no mundo.

A condição pode aparecer a qualquer momento, desde o início da gravidez até o momento de dar à luz, mas costuma ser mais comum no pós-aborto ou pós-parto. Nesse momento, as pacientes tendem a estar mais expostas a agentes patogênicos bacterianos, especialmente quando o trabalho de parto é demorado ou ocorre um longo atraso (mais de 18 horas) entre a ruptura das membranas e o nascimento de fato. 

Os riscos também são aumentados quando as atividades de parto são conduzidas em algum lugar não esterilizado. Os sintomas dessas infecções incluem dor na parte inferior do abdômen ou da pelve, febre, palidez, calafrio, desconforto, dor de cabeça e perda de apetite. O tratamento é baseado no uso de antibióticos.

5. Lesões durante o parto 

As lesões, ferimentos ou lacerações de parto são machucados físicos sofridos durante o processo de dar à luz. Podem ocorrer tanto nos partos vaginais quanto nos cirúrgicos, e se manifestam nas regiões da vagina, do períneo, do ânus e do assoalho pélvico. 

Em geral, lacerações pequenas podem acontecer e curar-se sozinhas, sem necessidade de atendimento médico. Mas, em certos casos, por negligência médica ou dificuldades na hora do parto, é possível que a paciente sofra lesões mais graves.

O grau mais severo pode até envolver um rompimento que se estende através do esfíncter anal e da mucosa retal. Nesses episódios, é necessário fazer uma reparação cirúrgica, bem como cuidados pós-parto rigorosos.

6. Depressão pós-parto

Associada a fatores de risco como privação de sono, isolamento, sedentarismo e falta de apoio do parceiro ou da família, a depressão pós-parto é uma complicação da saúde mental que pode levar a uma melancolia paralisante. Em casos mais extremos pode envolver ainda pensamentos suicidas e automutilação. 

Embora a sua causa exata ainda não seja conhecida, muitos acreditam que ela pode ser desencadeada por frustrações e quebras de expectativa em relação à gestação. Mudanças de plano no parto, problemas na lactação e dificuldades de conexão com o bebê são alguns exemplos.

Vale salientar que o quadro só é considerado como “depressão pós-parto” quando os sintomas apresentados pela mãe se estendem por mais de quatro semanas após o nascimento da criança. Antes disso, pode ser um caso de “baby blues”, sensação de tristeza temporária que surge poucos dias após o parto e está relacionada a alterações cerebrais do final de gravidez.

7. Trombose 

Durante a gestação, o organismo aumenta a produção de substâncias que induzem a coagulação para reduzir a perda de sangue durante o trabalho de parto, por isso grávidas e puérperas enfrentam um maior risco de desenvolver trombose. Elas são até quatro vezes mais propensas a sofrer um quadro de trombose venosa profunda (TVP) do que mulheres não gestantes. 

O perigo reside, sobretudo, nos estágios finais da gravidez e durante o parto. Nesse momento, é possível que as mulheres apresentem um menor fluxo sanguíneo nas pernas, devido à pressão do bebê na pelve. A imobilidade prolongada durante o trabalho de parto e a existência de outros problemas gestacionais, como doenças cardíacas, pulmonares ou diabetes, também aumentam os riscos fatais da condição.

Como evitar as mortes maternas?

A maioria das mortes maternas ocorre pela falta de amparo médico na gestação. Assim, a recomendação é que o profissional da saúde seja procurado pelos futuros pais logo que decidirem engravidar, ou assim que a gestação for percebida, em casos nos quais ela não for planejada. 

Os exames e cuidados pré-natais, além de avaliarem o desenvolvimento do feto, também servem para verificar o estado de saúde da mulher durante todo seu processo gestacional. Em muitos casos, o pré-natal permite que os médicos proponham tratamentos para prevenir o surgimento de complicações ou mesmo se prepararem com antecedência para problemas que podem surgir na hora do nascimento.

Os cuidados com a mãe não devem ser deixados de lado quando a criança nasce. De acordo com o levantamento da OMS, cerca de um terço das mulheres não recebem exames pós-natais essenciais, número ainda maior em países de baixa renda.

Depois que for liberada do hospital, é indicado que a puérpera passe em consulta uma semana após dar à luz. Outros retornos devem ser agendados para depois de 42 dias (seis semanas) e seis meses do parto. Esses atendimentos têm como objetivo verificar seu estado de bem-estar, em especial no que diz respeito aos níveis hormonais da paciente, que precisam voltar às suas taxas normais com o fim da gravidez. 

Alguns problemas de saúde desencadeados durante a gestação, como hipertensão e diabetes, podem se prolongar por semanas após o parto. Por isso, é importante que o ginecologista obstetra mantenha-se atento aos seus sintomas típicos.


Revisão técnica: Rômulo Negrini (CRM 113055/RQE 54854), coordenador médico materno-infantil do Hospital Israelita Albert Einstein.



Fonte

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