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Saúde mental – O que é depressão de alto funcionamento? Qual a relação com o esporte? | Vida Saudável

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Depressão é um estado mental no qual o paciente, muito comumente, sente tristeza, pessimismo, perda de interesse por atividades cotidianas e laborais, ou por relações interpessoais.

É comum que pessoas ao seu entorno consigam identificar seu abatimento, sua propensão ao choro, ao isolamento, à diminuição ou ao afastamento total de suas atividades, entre outros sinais. Todavia, isso pode também ser resultado de uma lesão que requer recuperação após uma partida.

Ainda, nas depressões de níveis moderado e grave, o paciente tem mais sofrimento. Afinal, há aumento ou diminuição do sono e do apetite, prejuízos de memória, de concentração e de raciocínio, queda considerável do desempenho profissional. E isso, por vezes, leva à demissão.

Dessa forma, os cuidados pessoais ficam em segundo ou terceiro plano, o senso e a prática de responsabilidade ficam comprometidos. A vida fica cinza e se sobressaem a falta de vontade e de prazer.

O que muda na depressão de alto funcionamento

Na depressão de alto funcionamento, o paciente demonstra para o mundo externo controle de sua vida e de seus sentimentos ao continuar realizando suas atividades de trabalho comumente. Dessa forma, as pessoas ao seu redor não necessariamente percebem o problema. Muitas vezes, se o percebem, não conseguem dimensionar sua intensidade – conforme possível na depressão.

Também chamada de depressão com alta funcionalidade, geralmente, é considerada de nível leve – gera sofrimento, mas não prejudica a continuidade das atividades. O paciente mantém sua rotina, o que, em geral, faz com que a busca por tratamento seja tardia. Isso pode levar à evolução do quadro para grave – sem excluir casos extremos, como os que levam o paciente à tomar medidas mais sérias, como é o caso de um suicídio.

Como descobrir os sinais

Na absoluta maioria das vezes, os sinais dados pelas pessoas com depressão de alto funcionamento não são evidentes ou alarmantes. Portanto, são difíceis de serem identificados. Os próprios pacientes tendem a não se reconhecer adoecidos mentalmente, sendo ainda mais difícil para pessoas em seu entorno perceberem seu real estado emocional e psíquico.

No entanto, existem alguns indícios e sinais que podem ser observados. Pessoas com a depressão de alto funcionamento conseguem expressar emoções positivas, mas não as sentem — é como se precisassem atuar, sustentar um personagem.

São muito exigentes, perfeccionistas e autocríticas. Também tendem a superdimensionar as falhas das outras pessoas. Em geral, não conseguem ter consciência de sua condição para buscar tratamento psicológico. Por isso, e apesar da limitação de detecção já abordada, a participação de quem está à sua volta é essencial.

Depressão no meio esportivo

A depressão entre os profissionais de alto rendimento tem ficado mais comum, bem como a ansiedade. Apesar de poucos estudos, alguns dados mostram que os atletas de futebol têm maiores taxas de sintomas depressivos e de síndrome de burnout que a população em geral. Com a popularização do assunto, percebemos também uma maior liberdade para os atletas falarem sobre suas experiências pessoais com sofrimento psicológico.

A trajetória dos atletas de alta performance no futebol é bastante demandante. Afinal, desde cedo vivem longe de suas famílias e amigos, destinam a maior parte do tempo aos treinos intensos e se afastam de experiências comuns a outras pessoas da mesma idade.

Existe uma pressão muito grande por resultados, uma expectativa que, para a maior parte dos atletas, se torna frustração. Inclusive, ao pensar que apenas 1,5% dos “candidatos” a jogador profissional acabam se tornando profissionais — dados da CBF de 2016 apontam que, destes, somente 2,5% chegam à elite do futebol. E tudo isso pode desencadear consequências psicológicas maiores do que eram abordadas até então.

Todavia, há riscos grandes de lesões impedirem que atletas com possibilidades de carreiras brilhantes cheguem ao topo. Todos esses fatores podem levar a elevados níveis de estresse. E isso faz com que mesmo pessoas com grandes habilidades para enfrentar essas tensões cheguem ao seu limite e adoeçam.

Consequentemente, quadros depressivos em atletas podem proporcionar desde uma queda de performance nos treinos e nas competições, até uma completa paralisia da vida, com necessidade de distanciamento da atividade.

Um paradoxo é que essas situações levam o atleta a sofrimento psicológico a se sentir “obrigado” a ocultar ou subestimar seu estado de saúde mental. Assim, esse atleta carrega um peso para continuar participando de todas as atividades relacionadas ao seu perfil profissional.

No auge do sofrimento, é possível que o atleta se veja diante desse dilema:

  1. Continuar competindo e correr riscos que vão desde se machucar até sofrer preconceito por apresentar um desempenho aquém da sua capacidade;
  2. ou interromper toda a sua performance e carreira, e cuidar do quadro psíquico?

Nos últimos tempos, alguns atletas optaram por não competir em grandes e importantes campeonatos exatamente por conta da saúde mental.

Prevenção da depressão

A prevenção começa na conscientização. Isso é: em falar mais sobre saúde mental com e para essas pessoas, promover a quebra do estigma que envolvem os transtornos psiquiátricos. Muitas vezes, eles ainda são encarados como uma fraqueza ou falta de garra.

Em alguns casos, como quando a pessoa percebe que está ficando sobrecarregada, isso pode colocar em jogo até questões morais. Dessa forma, tem-se um afastamento do profissional da sua rotina e prática para repensar sobre o modo como está se pressionando e/ou sendo pressionado.

Por essas e outras razões, é fundamental ter um suporte psicológico para auxiliar nas diferentes fases do processo de formação de um profissional de alta performance (seja atleta ou não).

É importante também ficar atento aos sinais de mudança de comportamento, pois isso pode ajudar na detecção precoce. Assim, um processo de sofrimento psíquico que leve a depressão será evitado. Portanto, se a pessoa demonstrar:

  • tendência ao isolamento;
  • estar sempre presa em seus pensamentos, com semblante mais fechado e triste;
  • sinais de dificuldade para dormir, como olheiras e bocejos a todo momento;
  • descuido com o visual;
  • desinteresse pelo que gostava anteriormente;
  • choro frequente;
  • falas sobre não querer mais continuar vivendo, que a vida está muito pesada, que gostaria de sumir ou dormir e não acordar mais;

Fique atento. Todos esses sinais podem indicar um quadro psíquico que precisa de acompanhamento, sendo as últimas falas de maior seriedade, para as quais um profissional deve ser acionado com urgência.

Principais formas de tratamento

Para todos os tipos de depressão, o recomendável é iniciar o tratamento com psicoterapia e atividade física. O quadro será identificado e a evolução do paciente, monitorada. Se essas atitudes não forem suficientes ou se o grau de depressão já estiver prejudicando visivelmente a vida da pessoa (como tendo causado uma demissão, por exemplo), parte-se para tratamento medicamentoso, com antidepressivos.

No fim das contas, porém, cada paciente deve e merece ser encarado e tratado levando-se em consideração sua história e seu diagnóstico. É fundamental, portanto, que tanto o paciente quanto seu círculo social ou profissional busquem aconselhamento e tratamento psicológico para o caso, a fim de amenizar os efeitos da doença.

Mais especificamente no caso da depressão de alto funcionamento, é importante que o profissional lance mão de ferramentas psicológicas para ajudar o paciente a lidar com a frustração, com a falha, com a quebra da expectativa diante de algo imensamente investido, como uma carreira de atleta profissional. Existe a possibilidade de o tratamento ocorrer com o profissional trabalhando, mas nos casos mais graves pode ser necessário o distanciamento da atividade.

Revisão por: Dr. Elton Yoji Kanomata, médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein; e Dr. Daniel Oliva, integrante do Núcleo de Saúde Mental e Bem-Estar do Hospital Israelita Albert Einstein.

Saúde em Campo é um projeto que esclarece dúvidas e traz curiosidades relacionadas à saúde e ao futebol, publicado durante o maior torneio do esporte no mundo em 2022. Você pode acompanhar novas postagens e conteúdos nas redes sociais do Einstein ou acessar: www.einstein.br/saudeemcampo.



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